Do
Casulo à Borboleta
Flávio
José
Lançado em 2017, pela CJA Edições, o
livro Do Casulo à Borboleta é o
primeiro livro solo da Professora Doutora Evanir de Oliveira Pinheiro (Eva
Potiguar). Eva é uma artista de muitas facetas e de muitos prêmios ganhos ao
longo de sua carreira acadêmica e como docente da rede pública estadual. Ela
também se destaca na luta pelos direitos a vida dos animas. Mas, aqui nosso
objeto será sua poesia, mais especificamente, a contida nas páginas do seu belo
livro. Eva Potiguar tem atuação marcante na Sociedade dos Poetas Vivos e Afins
do Rio Grande do Norte (SPVA/RN), instituição que congrega o que há de melhor
na poesia do Rio Grande do Norte.
No livro Do Casulo à Borboleta,
vamos encontrar uma poesia viva, onde as imagens poéticas construídas pela sua
autora levam os leitores a refletirem sobre as transformações da própria vida,
sobre os muitos círculos pelos quais passamos, até atingirmos um ápice em nossa
evolução, ou seja, nossas metamorfoses. Assim, como "Rhopalocera"
(borboletas), enfrentamos em nossa jornada nesse mundo, muitas vezes caótico e
sem sentido, as metamorfoses (fazes) da vida, vão dando um sentido a ela.
A Divisão do livro em capítulos
(metamorfoses), reforça o que escrevo em relação a transformações, mutações,
processos de evolução pois, ele se apresenta dessa forma: 1. No casulo; 2. Saindo do casulo; 3. E a
borboleta nasceu e 4. E a borboleta
voou.
No
primeiro capítulo, somos levados para o mundo em fase embrionária, estamos no
casulo. Vivemos os primeiros momentos de nossa transformação, sentimos as
primeiras fases de nosso desenvolvimento, experimentando sensações diversas e
adversas, mas sem nos entregarmos, pois, florescer (nascer) é o objetivo. As
metáforas construídas por Eva Potiguar, são as timoneiras firmes a nos levar da
fase de largaras até nossa apoteose de belas borboletas. Um trecho da poesia
cujo título dá nome a obra e vocês entenderão o que estou a dizer:
Como voar
Se a asa está quebrada?
Como tornar-se Borboleta
Sem enfrentar o casulo?
(...)
(p.12)
Apenas uma estrofe do poema, mas já
dá para perceber que as construções poéticas contidas na obra, como as
perguntas contidas no trecho acima, são os trechos de nossa viagem no existe,
pois nela passamos por percalços, por dificuldades, mas que o objetivo é
vencermos, alçarmos voos evoluindo, se metamorfoseando de algo pequeno para
algo grandioso. Somos apenas um feto nos primeiros momentos, uma lagarta, mas
evoluiremos para um ser humano majestoso e belo, sempre que compreendermos que
é essa nossa missão. A poesia de Eva Potiguar nos desperta para isso.
No segundo capítulo, Saindo do casulo, podemos ler um mar de
possibilidades do que é nascer, do que é estar vivo, do que é sair da escuridão
necessária, enfrentada na fase de casulo, e vim para a luz, conhecer o mundo
exterior, passar a experimentar da energia da vida, do dia, das cores, dos
sabores, enfim, do que a vida tem a oferecer de bom e de ruim, mas sempre para
nosso fortalecimento individual e coletivo. Cada poesia desse capítulo, é por
si só odes a grande festa de estar vivo.
No terceiro capítulo, E a borboleta nasceu, mais um reforço do
que é a vida, agora desnudada pela autora em suas contradições dialíticas com
sua tese, antítese e a síntese, que traduzindo, temos as concepções da vida
(casulo), do nascer (sair desse casulo) e de enfrentar a vida (voar) para
grandes saltos em nossa evolução, como seres humanos. O nascer nessa Tese
(fase), começamos a formular ideias que podem ou não nos levar por onde ninguém
mais foi. A antítese, nossos primeiros passos já dentro da vida, com altos e
baixos, recuos e avanços, essa parte em nossa metamorfose é onde temos que
decidir como chegaremos na síntese, certamente o momento mais difícil de
entendermos, determinarmos, pois aqui precisamos de autoconhecimento para
avaliarmos e reavaliarmos os erros e acertos em nossa trajetória ao longo da
vida. Digo sem medo que, autora e poesia se fundem, se conectam, assumem um
papel de cumplicidade. Eva Potiguar revela sua própria trajetória, seus altos e
baixos, suas retomadas diante dos vários caminhos que ela trilhou, para chegar
onde chegou, nos dando o direito de nos enxergarmos no espelho que sua poesia
produz e irmos buscar nossas realizações entendendo que também passaremos por
várias provas e metamorfoses.
O terceiro e último capítulo, E a borboleta voou, me agarro firme às
palavras de Flavio José: “A lagarta rasteja até o dia em que cria asas...”.
Essas palavras nos ajudam a entender a obra de Eva Potiguar, assim como a obra
dela auxiliam a entender essas palavras, porque aos poucos cada coisa vai
cumprindo seu papel, vai se transformando, vai evoluindo e a lagarta assim que
criar assas, irá levantar seu voou, não mais rastejará, não mais ficara
limitada ao chão. A obra Do Casulo à Borboleta nos diz isso, nos prepara para
isso, para o momento que também alçaremos voo.
Poeta,
professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e
autor do livro Entre a Sombra da Razão e
a Razão da Sombra.
Referencia:
BORHEIM, Gerd A. Dialética: Teoria, Práxis. Porto Alegre: Globo,
1977.
ENGELS, Friedrich. Dialética da Natureza. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1976.
POTIGUAR, Eva. Do Casulo à Borboleta: a poesia da resiliência e
transcendência humana, Natal-RN:CJA Edições, 2017.
JOSÉ, Flávio. A natureza das Coisas.
Disponível em: https://www.letras.mus.br/flavio-jose/200188/ acesso: 20.06.2018.