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Brinquedoteca Itinerante e Popular

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Resenha Poética com Cláudio Wagner: "Cangaço e o Carcará Sanguinolento e Outras Contações de Histórias"


 "Cangaço e o Carcará Sanguinolento e Outras Contações de Histórias".


            Se Junior Dalberto fosse um médico, tenho plena convicção que ao passar uma receita para um paciente, esse iria passar horas lendo-a, não porque as letras ali fossem difíceis de serem compreendidas, mas porque ele de forma magistral, certamente teria descrito cada elemento químico que compõe o medicamento, ao ponto de o paciente ficar vidrado na descrição e se deleitar com a história incrível que a receita está lhe proporcionando.
            Dalberto tem uma considerável produção literária, das quais destaco Reféns nos Andes (Baseado em fatos reais), Blattdea, Teatro Magico e Pipa Voada Sobre Brancas Dunas. Esse último livro operou em mim uma revolução no que se refere a experiência no prazer de ler. Entretanto, nesse texto, evidenciarei a obra Cangaço o Carcará Sanguinolento e Outras Contações de Histórias, tecendo minha impressão do mesmo, mas já avisando, apenas do conto que dá nome ao livro.
            A obra Cangaço e o Carcará Sanguinolento e Outras Contações de Histórias" que tenho em mãos, é uma segunda edição revisada, atualizada e lançada em 2017, pela Editora CJA.  Em pouco tempo de lançado, o livro já faz sucesso, sendo indicado pela escola CDF para ser trabalhando com seus alunos em sala de aula e faz parte de um projeto do Sindicato dos Policiais Federais, nas escolas públicas potiguares.
Os contos que estão na obra são: Cangaço e o Carcará Sanguinolento, A Sopa da Discórdia, Nefertiti, A gata Egípcia, A Barca de Caronte, O Tango no Espelho, Bordeline, O velório da Marquesa DI Fátimo e O Elevador. Em cada conto Dalberto demonstra toda sua habilidade em contar história e em deixar-nos cativados, loucos para lermos até o fim cada conto e saber como será o desfecho das narrativas.
            No conto Nefelitite, a gata egípcia, fiquei abismando como é que alguém consegue escrever que uma pessoa recebeu de outra uma gata de presente, algo aparentemente tão banal, mas Júnior pega esse fato e faz dele uma história com todos os elementos que uma história excelente tem que conter. Êpa! Falei desse conto assim superficialmente, só para deixar vocês loucos para ler, mas o objetivo aqui é só o conto "Cangaço e o Carcará Sanguinolento" apesar que o livro em si é de excelência.
            Não posso precisar se Júnior Dalberto já leu "O Herói de Mil Faces", de Joseph Campbeel, mas posso jurar de pés juntos, que o menino Cangaço, apelido do personagem do conto, cumpre perfeitamente a saga do herói colocada pelo Campbell ao analisar como se compõe o mito em algumas culturas, que é mais ou menos assim: O herói recebe um chamado no qual é encarregado para uma determinada missão, caso aceite esse chamado, parte para uma jornada e ao retornar, numa apoteose, já não é mais um ser igual aos demais e sim algo revestido de uma áurea especial (grifo meu), já que Joseph Campbeel faz uma análise mais detalhada, aqui eu apenas demonstro em partes, para auxiliar em minha argumentação.
            No conto, um Carcará, ave de rapina comum nos céus do sertão nordestino, causa muito prejuízo para as pessoas que vivem na pequena vila de pescadores ao redor do Açude Gargalheiras, pois os filhotes dos animais que essas pessoas criam, como patos e galinhas, que servem para ajudar na renda ou mesmo para melhorar a mistura de suas refeições, acabam nas garras e no bico da ave que os devora sem dó, nem piedade, o que faz do pássaro um ser indesejado pelas pessoas da região e o menino se vê na obrigação de dar um fim aos dias do carcará, ou seja, essa passa a ser sua missão, sendo o desfecho a execução de tal feito, a apoteose que transformara o menino em homem e o homem, por sua vez, em herói. Dar fim aos dias do carcará comedor de pintos e patinhos indefesos é o chamado de Cangaço, que por esse foi aceito e agora vamos a jornada, até a redenção, ou seja, se ele irá ou não concluir sua tarefa (missão).
            Junior Dalbeto, como bom conhecer da fórmula que constrói um herói, irá dar a esse um guia, um professor, um instrutor, um ser que irá guiar (ensinar) ao menino os ardilosos que se deve conhecer na arte de matar uma ave como o carcará sanguinolento. Daí, em uma outra parte do conto, estão as ações que irão trazer para morar nas serras que circundam o Gargalheiras, um velho índio, profundo conhecedor das técnicas de caça, que serão ensinadas ao Cangaço, para que sua jornada tenha êxito.
            Num lugar remoto e longe do açude Gargalheiras, um índio que perdeu toda sua família no mar, revoltado com esse destino, abandona sua tribo montado em cavalo e depois de cavalgar por muitos dias, acaba de uma forma mágica parando no Gargalheiras. Ele conhece o menino Cangaço e os dois ficaram muito amigos e dessa amizade, o índio ensina para o menino todos os segredos que havia aprendido na sua tribo, desde criança, sobre a arte de caçar. Quando curumim, ele mesmo havia caçado um jacaré e tal feito lhe rendera muito respeito por parte de seu pai e dos outros membros da sua tribo. Conta para Cangaço, que quando um caçador mata um animal, deve comer o coração desse ainda cru, pois assim adquirirá poderes especiais para novas caçadas. No conto, vocês irão ler como isso é descrito em detalhe.
Uma amiga minha, a Gabriela Silva, diz algo em um poema dela que bem descreve o que é um escritor. Lanço mão desse poema aqui para descrever Junior Dalberto:


Ser escritor é
Olhar pra dor e sorrir
Porque sabe que
Usando as palavras certas,
A dor se torna bela.
A saudade cria rimas,
As lágrimas viram estrelinhas,
A ansiedade fica bonita e
Toda a dor vira
Poesia.

            Júnior Dalberto é tudo isso que a Gabriela escreve e até um pouco mais. São muitos detalhes, muitas coisas que sua genialidade coloca no texto que vai fazendo com que as coisas se revistam de novo sentido e nos emocionem em cada novo paragrafo escrito por ele.
            Percebo que qualquer um de nós adoraríamos ser o menino Cangaço, andar por aí com uma baladeira, usando sempre as mesmas roupas que de tão usada, já se confundem com a própria pele. Quem não amaria ser livre para tomar banho na rua sem preocupação com o tempo? Quem não gostaria de se embrenhar nas matas, dentro da caatinga e conhecer as belezas das serras e seus muito encantamentos? Quem não quer ter um amigo confidente que lhe ensine sobre os segredos da vida?
O enredo desse conto tem muitos elementos, tem coisas boas e ruins que acontecem com nosso protagonista, que hora e outra leva umas porradas do pai, que o disciplina. Tem a mãe do menino com seus afazeres e preocupações e uma amiga com quem divide confidencias. Vocês irão conhecer as falas dessas pessoas, as vidas dessas pessoas e darão suas próprias opiniões, assim que lerem esse magnifico livro de Júnior Dalberto. Eu apenas vaguei por alguns momentos do menino, não entrei na sua profundidade, mas em alguns de seus momentos crucias, seu aprendizado para matar o pássaro que muito não acreditam que ele conseguirá.
            Meus estimados leitores, quando lerem "Cangaço e o Carcará Sanguinolento e Outras Contações de Histórias", por favor me avisem se a saga do herói foi concluída? Como nos permite sermos livres esse Junior Dalberto? Dalberto é ou não majestoso na utilização das palavras? O herói até passa por muitas fases, até se transformar em herói, mas aí vão lá e descubram como.

Boa Leitura!!!


Claudio Wagner

Poeta, professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e autor do livro Entre a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.





Referências:

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix,1997.
DALBERTO, Júnior. "Cangaço e o Carcará Sanguinolento e Outras Contações de Histórias". CJA-EDITORA, Natal-RN, 2017.
SILVA, Gabriela. Texto que me foi enviado por e-mail. Natal-RN, 06 de junho de 2018.




2 comentários:

  1. Parabéns carissimo Claudio e a SPVA/RN pelo valioso esforço em despertar o hábito da leitura.

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  2. Sou potiguar como Dalberto e, como tal, não pude deixar de me ver entranhado nas artimanhas de Cangaço, na sua saga para matar o carcará sanguiolento. Revivi muitas das minhas aventuras, voltando ao tempo de criança, pelas terras de Brejinho/RN, minha terra natal. Além do conto que intitula a obra, muito fui surpreendido por outras contações que compõem o livro, sobretudo "Boderline" e "A Barca de Caronte (que me inspirou a escrever o conto "Caronte - Sem troco para travessia", que consta no meu primeiro livro de contos, cujo título é uma das suas histórias, chamada "Sob o Farfalhar do Juazeiro"), ainda não publicado. Junior Dalberto é, sem dúvida, um autor de muitas faces, uma referência...

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