A Brinquedoteca participou do evento alusivo ao Dia Mundial do Vento na Comunidade de Aroeira (Jandaira) realizado pela EDP Renováveis, no último dia 26/07, com uma equipe de recreadores nas oficinas de corpo e movimento pipas, barangandãs, cata-ventos e contação de histórias.
Equipe: Ricardo Buihú, Demmy Gonzaga, Edilson Mano, Cipó, Naelson e Sérgio.
O projeto “Brinquedoteca Itinerante e Popular – BIP” desenvolvido desde 2004, como formas de garantir espaços lúdicos para que as crianças entrem em contato com a cultura popular do RN, preservando e difundindo formas de brincar que foram objetos de estudo de Câmara Cascudo, Veríssimo de Melo, e Manoel Rodrigues de Melo dentre outros. Brincar se configura como uma atividade natural para as crianças de todos os povos, independente de idade, sexo, religião, raça, classe sócio-econômica e cultura.
terça-feira, 31 de julho de 2018
terça-feira, 24 de julho de 2018
Dia Mundial do Vento Será Comemorado Dia 26 de Julho
Na próxima quinta-feira dia 26 de julho de 2018, estaremos comemorando o "Dia Mundial do Vento" na comunidade de Aroeira em Jandaira.
A Brinquedoteca Itinerante e Popular estará desenvolvendo atividades recreativa nas chamadas ilhas culturais.
O Dia Mundial do Vento festeja-se a 15 de junho.
Neste dia convidam-se as pessoas a descobrirem o vento: do seu poder à
sua importância, das suas possibilidades à sua tipologia. A efeméride
foi criada pelo Conselho Global de Energia Eólica (Global Wind Energy Council - GWEC).
quarta-feira, 18 de julho de 2018
Resenha Poética com Cláudio Wagner: O livro “Flor de Catus”, da poetisa Clécia Santos
FLOR DE CACTUS
As transformações
biológicas da Poesia de Clécia Santos
O
livro “Flor de Catus”, da poetisa Clécia Santos, foi lançado de
forma independente pela autora e impresso pela WP Gráfica e Editora.
Nesse livro, que já é segunda edição, vamos encontrar poemas
majestosos, que realçam em cada verso as muitas belezas do Sertão
Potiguar.
O
poema Flor de Catus, que dá nome a obra, o primeiro do livro, é uma
espécie de cartão de visitas do que espera por nós, pois nele já
dá para se ter uma ideia das belezuras do universo poético no
decorrer de cada página, nos orientando pelos muitos relevos e
paisagens do nosso belo sertão, que mesmo em sua aridez, provocada
pelo fenômeno da seca, deixando o solo sem vida, é, ao mesmo tempo,
um lugar de belas imagens, e essas, a poetisa Clécia captura em seus
poemas, que são um presente para quem os lê. Em cada verso, ficamos
deleitados com as descrições grandiosas que a poetisa consegue
sintetizar sobre essa parte de nosso estado (país).
O
poema Flor de Catus começa com uma apresentação que, por si só,
gera uma gama de interpretação, pois ou a autora, ou a flor, ou o
livro, porque não dizer os três juntos, dizem assim: "
Sou um caixa de surpresas" (p.5).
Hora, uma caixa de surpresa pode conter muitas coisas, coisas boas e
coisas nem tão boas assim, mas o importante é a surpresa, é o
inusitado, saber que o que nos aguarda foge do campo opaco das
convenções, não é algo dado, já a mostra e sim, algo que irá se
revelar, porém, essa revelação é apenas para os munidos de
ousadia, os que tem coragem para abrir a caixa e assumir o ônus que
a surpresa pode proporcionar, e vale muito apena entrar nessa caixa
livro, embarcar para descobrir o que Clécia Santos irá revelar com
sua poesia. O que essa bióloga de formação consegue passar a
respeito do DNA das palavras, como ela consegue manipulando esse DNA,
dar vida em estruturas poéticas a todo um Sertão que deixa de ser o
Sertão das lamurias, das misérias provocadas pelo flagelo da seca,
ganhando uma conotação de força, de beleza, de vida que pulsa num
eterno se reinventar, refazer, reconstruir, pois onde está o humano,
está o belo para o fazer poesia, e isso Clécia Santos demonstra
como poucos.
O
Sertão que nos dá a Flor de Catus é o que está nas entranhas da
poesia de Clécia Santos e, é belo, porque é humano, e é esse
humano que observando a paisagem localiza em seu olhar a beleza e a
força que uma flor singela pode revelar e nos dizer sobre ela, algo
que nem todo humano está disposto a enxergar.
O
Sertão que nos dá a flor de Catus e que está nas entranhas da
poesia de Clécia Santos, é belo, porque é humano, e é esse humano
que ao observar a paisagem, visualiza em seu olhar a beleza e a força
que uma flor singela pode revelar.
Agora,
vais tirar a cara desse aparelho, onde estais a ler esse texto e vais
pelas ruas de Natal a procurar o lugar onde seres unicelulares
(letras), vão se juntar em palavras cada vez mais complexas, para
que essas deem forma a poesia. Procura e lê o que escreve Clécia
Santos, pois assim entenderas um pouco sobre a gênesis que forma a
poesia que hoje constituem nova a Flor de Cactus e as transformações
biológicas da sua poesia.
Claudio Wagner
Poeta,
professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da
SPVA/RN e autor do livro Entre
a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.
REFERÊNCIA
SANTOS,
Clécia.
Flor de Cactus. Produção Independente. Natal/RN.
quarta-feira, 11 de julho de 2018
Resenha Poética com Cláudio Wagner: “O espetáculo do mundo” de Angelo Girotto.
UM
PRESENTE EM 2015
“ A
verdade é um castelo que construímos para satisfazer nossas
vontades”
Paul
Veyne
De quando eu tinha 15 anos de idade e estudava
na Escola Estadual Isabel Gondim, no bairro da Rocas, lembro-me de
uma conversa que tive com minha professora de redação, que foi mais
ou menos assim: “Ei, professora, o que é uma resenha? Já que a
senhora está falando que na aula de hoje teremos que fazer uma.”
Ela, antes de responder, disse: “Já sei que você não veio na
última aula”. “Claro que não, tava na praia”. “Você não
se cansa da praia?” “Claro que não, mas canso com facilidade da
escola.” Se soubesse mesmo as consequências disso, ou nunca teria
faltado, ou jamais teria voltado lá na escola.
Mas, a professora, mesmo sabendo que esse que
agora escreve tinha faltado a aula, respondeu assim à minha
pergunta: “Uma resenha é um texto escrito de forma que nele
possamos apresentar uma crítica ou pensamento que um autor(a)
apresentou em um livro, ou sobre um filme, ou uma peça de teatro.
Enfim, é um recurso pelo qual podemos apresentar para outras pessoas
nosso ponto de vista sobre determinado tema (assunto). De pronto, eu
disse: “Ah! Basta falar mal de uma dessas obras e pronto?”. A
professora, que já estava perdendo a paciência, mas que mantinha a
elegância que sempre foi sua característica, disse: “Se você
viesse mais às aulas e deixasse um pouco a praia, certamente saberia
que críticas podem ser tanto construtivas, ou seja, podem levantar
aspectos bons, como podem ser destrutivas, apontando aspectos ruins.
Isso vai da forma como você se posicionará sobre a obra que irá
resenhar”.
Quase trinta anos depois, estou me incumbindo
de escrever uma resenha e mensurando o que perdi naquelas aulas. Com
um pouco de medo das mil e uma teorias sobre a língua portuguesa e
da mãe do meu filho, que é uma professora de português das
melhores e que, se eu vacilar no uso das palavras, arranca meu
pescoço.
Deixando o medo de lado, hoje apresento a obra
“O espetáculo do mundo”, novela de Angelo Girotto.
Bem, se você quer saber o que é uma novela e
pensa que essas linhas irão lhe explicar, logo lhe advirto, não é
esse o meu objetivo, mas sim, explicar como a ponte aérea
Curitiba-Natal nos presenteou um personagem, Antônio Block e seus
muitos dilemas, como Angelo Girotto, esse fazedor de textos, deu para
o personagem, como cenário de atuação, o mundo em toda sua
espetacularidade.
Lembre-se que uma leitura é, ou deveria ser,
uma interpretação pessoal e que os pontos que serão abordados aqui
sobre o livro “O espetáculo do mundo, são escolhas que fiz. Você
poderá fazer outras, mas aqui estarei apresentando que, o que o
autor nos dá, torna sua obra um presente, o que seu personagem nos
proporcionará, ressignificará nossas vidas, tirará nossos medos e,
quem sabe, até nos acrescentará outros.
Block, bem que poderia ser uma pessoa como as
outras, poderia ter crescido, aceitado sua existência sem
questioná-la. Poderia até mesmo só se casar, ter filho, um
contracheque, conta no banco e contas para pagar em todos os seus
vencimentos. Porém, que graça teria isso? Seria Angelo Girotto tão
ingênuo a ponto de nos deixar de herança alguém comum? Claro que
não.
De Antônio Block, só sabemos um pouco da
infância, já que no livro ela só é acionada, permitindo a quem o
ler, em poucas passagens, visualizar seu percurso até a
adolescência, em Curitiba. Ele um dia foi criança, morou no Mato
Grosso do Sul, brincou com o perigo no momento que quase pegou numa
cobra, mas a mãe o impediu. Nessa mesma infância, o pai é
apresentado como um sujeito bruto, que no lugar de carinho preferiu
nunca deixar faltar comida para o filho, deduzo. Block, teve avós,
teve primos, primas, mas esses personagens surgem na narrativa apenas
para alertar que seu nascimento não foi divino. Mas, garanto que
quando você ler o livro “O espetáculo do mundo”, vai achá-lo
divino. Se você for do tipo religioso, é bem provável que perceba
ali um “mito” fundante para uma comunidade exotérica, que você
encontre sua própria “Gênesis”, que você queira ser o Antônio
Block.
O personagem bem poderia ser homem, ou mulher,
poderia ser a menina que hoje em Recife-PE, trabalha sério com
pilates. Poderia ser a outra, que chutou o mestrado em letras, que
têm mil empregos, que faz direito na UERN. Poderia ser o cara que
nos anos 1994, brincava de ser aprovado em vestibulares, que passou
por engenharia civil, arquitetura, que foi para Brasília com seu
amor adolescente e que hoje está, dizem, terminando direito na UERN.
Block, também poderia ser o cara certinho, vegano, que aceitou uma
frase do BBB: “Quanto mais conheço o ser humano, mais adoro meus
cachorros”. Cara esse que é técnico em segurança de uma empresa
de petróleo, ou ainda, o que já foi professor e hoje é advogado, e
que quando lê um livro, sempre deixa sua marca. Poderia ser
policial, professor, das letras e assessor parlamentar. Mas não.
Block é tudo isso e muito mais. Vamos a um dos seus pensamentos,
genialmente descrito no livro, que é assim:
“ A morte chegará para todos, pensou, e não
há nenhuma diferença se ela chegar hoje ou amanhã. Um dia, tudo o
que fomos, nossas memórias e pulsões, nossas relações e
trajetórias, tudo estará acabado, esquecido e definitivamente
disperso no tempo, o que quer que o tempo seja, ilusão ou movimento.
As estrelas morrerão e o Universo chegará ao Fim, Block.”
(GIROTTO, 2015, p.18).
Esse pensamento do Block e suas indagações a
respeito de sua finitude, sobre o que é o tempo, feitas de forma
retórica, não é bem parecido com as indagações que a humanidade
e os filósofos fazem a milênios sobre o De onde? Para onde? Ou para
quê? Até poderíamos aceitar as coisas assim, mas não, pois o
personagem dá a sua própria resposta. Ele diz que o fim é
dispersão, que mesmo a morte individual é inevitável, é também a
morte de tudo. É a morte do Universo e de tudo nele contido.
E aprofundemos ainda mais nossa reflexão a
respeito desse trecho do pensamento do Block, mas recorrendo a Carl
Gustav Jung, no livro “ Memórias, sonhos, reflexões”, no qual o
autor assim vai se posicionar:
“Infelizmente, o
lado mítico do homem encontra-se hoje frequentemente frustrado. O
homem não sabe mais fabular. E com isso perde muito, pois é
importante e salutar falar sobre aquilo que o espírito não pode
apreender, tal como uma boa história de fantasmas, ao pé de uma
lareira e fumando cachimbo. O que significa “na realidade” os
mitos ou as histórias de uma sobrevida, ou qual a realidade aí se
dissimula, certamente não sabemos. Não podemos estabelecer se têm
qualquer justificativa além do seu indubitável valor de projeção
antropomórfica. É preciso claramente consentir que não existe
nenhuma possibilidade de chegar-se a uma certeza nesse assuntos que
ultrapassam nossa compreensão (JUNG, p. 29-30).”
O Block, corrobora com Jung, pois ele entende
essa frustração em que frequentemente o lado mítico do homem se
encontra imerso e que Jung denunciou magistralmente. Porém, ele
busca se distanciar dela em seu pensamento e dá sua resposta para a
vida póstuma. No caso do nosso personagem essa seria a dispersão.
Em muitas das passagens do livro “O espetáculo do mundo”,
Antônio Block conversa com seus amigos sobre toda essa sua busca de
um sentido para a vida e suas formulações sobre morte-vida e seus
significados sempre estão presentes. Eles discutem sobre política,
religião, terrorismo, Universo, subverso e as muitas incertezas
teóricas e metodológicas que essas questão trazem em si. Conversas
que eles embasam discutindo desde “O princípio da incerteza”, de
Heiseberg, ao Gato de Schródinger e Einstein, entre outros grandes
pensadores e cientistas da humanidade. Isso tudo buscando uma
explicação sobre a vida, seu significado e valia. E sobre como
devemos atuar no espetáculo do mundo, já que somos espectadores e
personagens atuantes ao mesmo tempo. E mesmo que todas essas
discussões não sejam suficientes para responder as perguntas do no
jovem Antônio Block, professor de biotologia, em cursinho Pré-vestibular, em Curitiba, mas que depois vem fazer
concurso público, em Natal, para poder, quem sabe, se realizar
pagando contas e, com essas pagas, ter uma vida feliz e
significativa. Isso você poderá observar no livro e comprovar se o
que escrevo sobre Antônio Block é verdadeiro ou não.
Mas, deixemos a biografia do Block para trás
e voltamos a nos ater em apresentar o livro “O espetáculo do
Mundo”. Angelo Girotto, como um bom fazedor de textos que é, não
deixaria linhas soltas, não deixaria que a gente se perdesse, nem
muito menos que não pudéssemos, mesmo que de forma superficial,
confirmar a genialidade do Antônio Block nas muitas maneiras que ele
responde como deve ser a vida nossa de cada dia.
Já que sobre a morte nossa de todo dia ela
também já falou, vamos a outra passagem do livro: “As pessoas têm
seu próprio caminho a percorrer, cada um, apenas cada um é capaz de
resolver seus problemas e apenas os seus: Isto, com e sem variações”
(GIROTTO, p.47). O que há de genial nisso? Já que é obvio que cada
um e só cada um é que pode resolver seus próprios problemas. No
meu entender, é que esperamos que um personagem nos diga isso. Esse
personagem pode receber variados nomes, em variadas culturas, pode
ser um deus nas religião, pode ser um grande estadista na política,
pode ser um grande analista na psicanálise ou algo assim. Desde que
nos diga com uma autoridade de fora. E o Block é essa autoridade.
Campo bem perigoso e movediço esse que me
coloquei no último parágrafo, já que pus política e religião em
linhas tão próximas e ainda afirmei que precisamos de algo que vem
de fora para apontar que caminhos devemos seguir. Bem, mas é assim
que o Block vai estar durante todo o seu percurso, fazendo do início
ao fim do “Espetáculo do Mundo”, a atuação do personagem
sempre bem dada em cada ação. Vai carregando ele em busca dessa
autoridade que já possui e da qual Angelo Giroto se utilizará para
o desfecho de sua novela.
O Presente em 2015 quem nos dá é Angelo
Girotto, com seu livro “O espetáculo do mundo”. Sei que você
está aí se perguntando: “só poucos trechos e o Cláudio já fez
tantos comentários a respeito do livro? ” Respondo: ele está nas
livrarias, sugiro que compre e leve-o para casa e leia-o do início
ao fim. Comece pelas orelhas – busque entender dali quem é o
Angelo, quem é o ilustrador do livro. Deguste cada ilustração,
busque as surpresas do desenrolar da história, tente fazer a ponte
entre a dedicatória feita pelo autor e o personagem e outros que não
estão no livro, mas que aqui eu os coloquei. E por fim, você
compreenderá porque o mundo é um espetáculo e você é o único
capaz de escrever o roteiro para sua atuação nele, o mundo. Então
perceberás porque o livro é um presente.
E por último, sorria, se também conseguir
compreender a ligação entre o que diz Henri Bergson, nesse trecho
do seu ensaio sobre o significado do cômico: feito no livro O Riso:
“Chamamos a atenção para isto: não há comicidade fora do que é
propriamente humano. Uma paisagem poderá ser bela, graciosa,
sublime, insignificante ou feia, porém jamais risível. Riremos de
um animal, mas porque teremos surpreendido nele uma atitude de homem
ou certa expressão humana. Riremos de um chapéu, mas no caso, o
cômico não será um pedaço de feltro ou palha, senão a forma que
alguém lhe deu, o molde da fantasia humana que ele assumiu. Como é
possível que fato tão importante, em sua simplicidade, não tenha
merecido atenção mais acurada dos filósofos? Já se definiu o
homem como “um animal que ri”. Poderia também ter sido definido
como um animal que faz rir, pois se outro animal o conseguisse, ou
algum objeto inanimado, seria por semelhança com o homem, pela
característica impressa pelo homem ou pelo uso que o homem dele
faz.” (BERGSON, p.7)
Obrigado e atue firme sobre sua própria vida,
construa todos os seus sonhos, busque agir com ética, lembre-se que
essa só é possível se você exercitar sua liberdade. Obrigado ao
fazedor de texto, por ter escrito “O espetáculo do mundo”. E
lembre-se do que Paul Veyne disse: “A verdade é um castelo que
construímos para satisfazer nossas vontades”. Então, não temos
para quê impor as nossas verdades a ninguém, pois assim, nos
ensinara Antônio Block, mesmo sem saber, a reinterpretar Paul Veyne.
Claudio Wagner
Poeta, professor historiador, Cientista das
Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e autor do livro Entre
a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.
Referencia:
BERGSON, Henri, O
Riso, ensaios sobre a
significação do cômico. Rio de Janeiro, Zahar Editores S/A, 1983.
GIROTTO,
Angelo, O
espetáculo do mundo.
Natal-RN, CJA Edições, 2015.
JUNG,
Carl Gustav, Memórias,
sonhos, reflexões.
Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986.
VEYNE, P.
Humanistas:
romanos e não romanos.
In: GIARDINA, A.(Org.) O homem romano, Lisboa : Presença, 1991.
Extraído de: BELTRÃO, Claudia e DEVIDSON, Jorge, História Antiga
v.2, Rio de Janeiro: Fundação CECIERI, 2010.
SOUZA,
Roberto Acízelo de. Teoria
da literatura.
São Paulo: Ática, 1995.
quarta-feira, 4 de julho de 2018
Resenha Poética com Cláudio Wagner: Apenas Palavras de José de Castro
APENAS PALAVRAS?
Apenas
Palavras é o título de um dos muitos livros do escritor José de Castro.
Confesso que me apropriei do mesmo, usando-o como título deste texto, mas
adicionando o sinal de interrogação. Até
o final do que escreverei, saberás porque fiz isso.
José de Castro, autor de Apenas Palavras, apesar de mineiro, tem toda sua produção literária
no Rio Grande do Norte e, porque não dizer, grande parte da sua vida construída
em terras potiguares. Certo dia, uma pessoa chegou até mim e disse: - Claudio,
José de Castro gosta é de pão de queijo! De pronto, falei que também gosto
dessa iguaria. Daí a pessoa insistiu e falou: - Você não está entendendo! O que
quero dizer é que ele não pode ser considerado um escritor potiguar. Então,
falei que tenho certeza que ele adora praia, sol e ginga com tapioca e que tudo
isso pode ter em Minas Gerais, mas praia, a geográfica garante ser impossível.
Mesmo pensando que todo escritor é universal, assim como qualquer outro
artista, lhe digo que José de Castro é o Mineiro mais Natalense que conheço! E
sua obra é genuinamente potiguar! Ela tem os traços, os trejeitos, as
características de nossa gente. Todo o DNA da produção desse senhor, é
POTIGUAR! Ou você acredita que A Cozinha
de Marinha Farinha foi inspirado em Caranguejo mineiro? Me poupe né!
Eu me encontrei com José de Castro num belo
dia de julho de 2017 e na ocasião, estava na Cooperativa Cultural da UFRN. Eu
arrotava aos quatro cantos ser o escritor mais vendido daquela livraria.
Acredito que isso o fez se aproximar de mim e, antes que eu pudesse falar
qualquer coisa, me disse ir algumas vezes ali para pegar dinheiro dos seus
livros, mas não sabia se eram mais vendidos quanto o meu. Perguntou meu nome e
o título do meu livro. Respondi ser Claudio Wagner e meu livro, Entre a Sombra
da Razão e a Razão da Sombra. Ele apresentou-me o dele, Apenas Palavras, foi
quando descobrimos que ambos foram publicados pela mesma Editora. Castro
sugeriu fazermos um escambo, então trocamos os livros.
Se é verdadeira essa frase de Truman Capote:
“Meus conhecidos são muitos, meus amigos poucos; os que realmente me conhecem,
são menos ainda.” Ou seja, é difícil conhecer alguém, então não conheço o José
de Castro. Essa é a forma que o poeta João Andrade, apresenta o José de Castro na
orelha do Apenas Palavras. E João Andrade vai mais além, dizendo que conhece
sim o poeta José de Castro e sua poesia. Pois bem, não conheço o José de
Castro. Como diz Capote, acho até difícil conhecer alguém, mas a obra dessa
pessoa, penso que sim. O que ele escreve, está ali estático, sem movimento,
sendo possível revisita-la, para traçar comparações, fazer apontamentos sobre
seus aspectos, defini-la dentro de um gênero literário, nesse caso, o gênero
poético. E, mais que isso, é possível tecer comentários sobre o autor, sobre a
forma como ele escreve, se bem ou mal, se diz algo de relevante ou não, se sai
do lugar comum ou fica preso no coloquial, sem nada acrescentar de inovador.
Peço para que esqueça um pouco que estou
falando sobre livro e sobre autor e venha comigo para darmos juntos uma guinada
e falar sobre roteiro de viagem e sobre guias turísticos, desses bem
especializados, do tipo que sabe tudo em relação a cada lugar apresentado no
roteiro por ele definido, conhece cada lugar que será visitado pelo turismo.
Bem, José de Castro é esse guia. O seu livro, o lugar para onde viajaremos. O
roteiro, a forma como o livro está dividido (definido).
Vamos a nosso roteiro: o livro tem 124 poemas,
divididos em V capítulos: I o eu poético;
II o eu feminino; III o eu lírico; IV o eu filosófico e V o eu
navegante. Como cada título dos capítulos sugerem, temos um apanhado de
vários eus e suas múltiplas possibilidades dentro da arte de fazer poesia, onde
podemos afirmar vários Josés e seus Castros a brindar o mundo com uma poesia
que vai versar em formas variadas de composição, que vai brincar com temas
filosóficos, que vai vestir e revestir o poeta com o manto e uma alma feminina,
traçando uma lírica embasada na beleza, sempre apoiado numa escrita fina, num português
impecável, marca de um autor comprometido com o uso da língua escrita.
Inovação? Apenas
Palavras, de José de Castro, lançado em 2015 pela CJA Edições, é um livro
onde não faltam lugares incomuns, que fogem do cotidiano, mas esses, eu só
afirmo a existência, não apontarei aqui nenhum, ou quase nenhuma, já lhe mostro
porque, pois, você é quem irá seguir o roteiro do nosso guia e nele irás achar
o que confirmam minhas palavras.
Deixo apenas um poema, justamente o que dá
nome ao livro:
Apenas
palavras me barulham por dentro,
me
baralham e me bailam
me
embalam e em mim se calam.
Meu
casulo, minha clausura
é
o verbo cela onde habito,
onde
falo, onde calo o meu grito.
Grave
escrita breve me agrava.
Corta-me
o poema feito espada,
feito
faca, adaga, fado de letra torta.
Verso
leve me degrada e me condena
a
ser escravo das palavras que me escrevem.
(p.18)
José de Castro, um homem das letras por
excelência, um conhecedor do poder das palavras, justamente ele, traz essas
para brincar em seu poema, afirmando em metaforiza-las, sobre as possibilidades
de intervenções que essas palavras provocam. Ora as palavras brincam com o
poeta, ao mesmo tempo que esse brinca com elas, e essa brincadeira faz com que
um e outro virem cúmplices, numa dialética de si reinventarem, nesse caso
criador e criatura viram um só. As palavras e Castro são unos, inseparáveis,
indivisíveis e sempre a si transformar, dando um ao outro o combustível de
transcender as fronteiras do Signo – Significante – Significado – Significação,
como dizem o mestre da semiótica Saussure. E no caso de Apenas Palavras, seu autor inverte brilhantemente o lugar comum das
coisas, o que era signo vira significante, e significado, em milésimos de
versos e estrofes.
Lhe desafio a ler, conferir e
me refutar um abraço. E assim, você entenda porque uso a interrogação, mudando
o título original do poema, é que quero saber por que "Apenas
Palavras", José de Castro?
Claudio
Wagner
Poeta,
professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e
autor do livro Entre a Sombra da Razão e
a Razão da Sombra.
Referencia:
CAPOTE, T. A sangue frio. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
CASTRO, José de. Apenas Palavras: Natal-RN. CJA-Editora, 2015.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística gera l. Tradução de Antônio
Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Bllikstein . 26. ed. São Paulo : Cultrix ,
2006 .
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