APENAS PALAVRAS?
Apenas
Palavras é o título de um dos muitos livros do escritor José de Castro.
Confesso que me apropriei do mesmo, usando-o como título deste texto, mas
adicionando o sinal de interrogação. Até
o final do que escreverei, saberás porque fiz isso.
José de Castro, autor de Apenas Palavras, apesar de mineiro, tem toda sua produção literária
no Rio Grande do Norte e, porque não dizer, grande parte da sua vida construída
em terras potiguares. Certo dia, uma pessoa chegou até mim e disse: - Claudio,
José de Castro gosta é de pão de queijo! De pronto, falei que também gosto
dessa iguaria. Daí a pessoa insistiu e falou: - Você não está entendendo! O que
quero dizer é que ele não pode ser considerado um escritor potiguar. Então,
falei que tenho certeza que ele adora praia, sol e ginga com tapioca e que tudo
isso pode ter em Minas Gerais, mas praia, a geográfica garante ser impossível.
Mesmo pensando que todo escritor é universal, assim como qualquer outro
artista, lhe digo que José de Castro é o Mineiro mais Natalense que conheço! E
sua obra é genuinamente potiguar! Ela tem os traços, os trejeitos, as
características de nossa gente. Todo o DNA da produção desse senhor, é
POTIGUAR! Ou você acredita que A Cozinha
de Marinha Farinha foi inspirado em Caranguejo mineiro? Me poupe né!
Eu me encontrei com José de Castro num belo
dia de julho de 2017 e na ocasião, estava na Cooperativa Cultural da UFRN. Eu
arrotava aos quatro cantos ser o escritor mais vendido daquela livraria.
Acredito que isso o fez se aproximar de mim e, antes que eu pudesse falar
qualquer coisa, me disse ir algumas vezes ali para pegar dinheiro dos seus
livros, mas não sabia se eram mais vendidos quanto o meu. Perguntou meu nome e
o título do meu livro. Respondi ser Claudio Wagner e meu livro, Entre a Sombra
da Razão e a Razão da Sombra. Ele apresentou-me o dele, Apenas Palavras, foi
quando descobrimos que ambos foram publicados pela mesma Editora. Castro
sugeriu fazermos um escambo, então trocamos os livros.
Se é verdadeira essa frase de Truman Capote:
“Meus conhecidos são muitos, meus amigos poucos; os que realmente me conhecem,
são menos ainda.” Ou seja, é difícil conhecer alguém, então não conheço o José
de Castro. Essa é a forma que o poeta João Andrade, apresenta o José de Castro na
orelha do Apenas Palavras. E João Andrade vai mais além, dizendo que conhece
sim o poeta José de Castro e sua poesia. Pois bem, não conheço o José de
Castro. Como diz Capote, acho até difícil conhecer alguém, mas a obra dessa
pessoa, penso que sim. O que ele escreve, está ali estático, sem movimento,
sendo possível revisita-la, para traçar comparações, fazer apontamentos sobre
seus aspectos, defini-la dentro de um gênero literário, nesse caso, o gênero
poético. E, mais que isso, é possível tecer comentários sobre o autor, sobre a
forma como ele escreve, se bem ou mal, se diz algo de relevante ou não, se sai
do lugar comum ou fica preso no coloquial, sem nada acrescentar de inovador.
Peço para que esqueça um pouco que estou
falando sobre livro e sobre autor e venha comigo para darmos juntos uma guinada
e falar sobre roteiro de viagem e sobre guias turísticos, desses bem
especializados, do tipo que sabe tudo em relação a cada lugar apresentado no
roteiro por ele definido, conhece cada lugar que será visitado pelo turismo.
Bem, José de Castro é esse guia. O seu livro, o lugar para onde viajaremos. O
roteiro, a forma como o livro está dividido (definido).
Vamos a nosso roteiro: o livro tem 124 poemas,
divididos em V capítulos: I o eu poético;
II o eu feminino; III o eu lírico; IV o eu filosófico e V o eu
navegante. Como cada título dos capítulos sugerem, temos um apanhado de
vários eus e suas múltiplas possibilidades dentro da arte de fazer poesia, onde
podemos afirmar vários Josés e seus Castros a brindar o mundo com uma poesia
que vai versar em formas variadas de composição, que vai brincar com temas
filosóficos, que vai vestir e revestir o poeta com o manto e uma alma feminina,
traçando uma lírica embasada na beleza, sempre apoiado numa escrita fina, num português
impecável, marca de um autor comprometido com o uso da língua escrita.
Inovação? Apenas
Palavras, de José de Castro, lançado em 2015 pela CJA Edições, é um livro
onde não faltam lugares incomuns, que fogem do cotidiano, mas esses, eu só
afirmo a existência, não apontarei aqui nenhum, ou quase nenhuma, já lhe mostro
porque, pois, você é quem irá seguir o roteiro do nosso guia e nele irás achar
o que confirmam minhas palavras.
Deixo apenas um poema, justamente o que dá
nome ao livro:
Apenas
palavras me barulham por dentro,
me
baralham e me bailam
me
embalam e em mim se calam.
Meu
casulo, minha clausura
é
o verbo cela onde habito,
onde
falo, onde calo o meu grito.
Grave
escrita breve me agrava.
Corta-me
o poema feito espada,
feito
faca, adaga, fado de letra torta.
Verso
leve me degrada e me condena
a
ser escravo das palavras que me escrevem.
(p.18)
José de Castro, um homem das letras por
excelência, um conhecedor do poder das palavras, justamente ele, traz essas
para brincar em seu poema, afirmando em metaforiza-las, sobre as possibilidades
de intervenções que essas palavras provocam. Ora as palavras brincam com o
poeta, ao mesmo tempo que esse brinca com elas, e essa brincadeira faz com que
um e outro virem cúmplices, numa dialética de si reinventarem, nesse caso
criador e criatura viram um só. As palavras e Castro são unos, inseparáveis,
indivisíveis e sempre a si transformar, dando um ao outro o combustível de
transcender as fronteiras do Signo – Significante – Significado – Significação,
como dizem o mestre da semiótica Saussure. E no caso de Apenas Palavras, seu autor inverte brilhantemente o lugar comum das
coisas, o que era signo vira significante, e significado, em milésimos de
versos e estrofes.
Lhe desafio a ler, conferir e
me refutar um abraço. E assim, você entenda porque uso a interrogação, mudando
o título original do poema, é que quero saber por que "Apenas
Palavras", José de Castro?
Claudio
Wagner
Poeta,
professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e
autor do livro Entre a Sombra da Razão e
a Razão da Sombra.
Referencia:
CAPOTE, T. A sangue frio. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
CASTRO, José de. Apenas Palavras: Natal-RN. CJA-Editora, 2015.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística gera l. Tradução de Antônio
Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Bllikstein . 26. ed. São Paulo : Cultrix ,
2006 .
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