O
Espelho de Eloísa
Eu não
tenho mais a cara que eu tinha, no espelho essa cara já não é
minha.
Nando
Reis
Se alguém me perguntasse que lugar eu
escolheria para ficar preso, responderia, sem dúvidas, que seria na
cabeça de um escritor ou escritora. Pensem no quanto de histórias e
magia há na cabeça desses seres. Viver num lugar desses, tão
privilegiado, vivenciando o processo de criação e concebimento,
antes da obra ser presenteada ao mundo, seria incrível!
A autora de quem irei falar uma pitadinha da
sua mais nova criação, o livro "O Espelho de Eloísa",
lançado pela CJA- Edições, 2018, é a Professora Doutora Araceli
Sobreira. Tive o privilégio de conhecê-la quando ingressei no curso
de Ciências da Religião (UERN), há mais de 10 anos. Quando peguei
esse livro em minhas mãos, não tive dúvidas de que a experiência
seria gratificante e, ao fim da leitura, algo de novo seria
acrescentado em meu viver. E assim aconteceu. A cada um dos contos
que acabava de ler, elevava-me com a força, a leveza, a delicadeza e
principalmente o humano de cada umas das mulheres, que são as
personagens centrais de todo o enredo.
Mas, como é sabido por todos que leem essa
coluna, não darei spoiler do livro, apenas contarei pequenos
detalhes para aguçar seus instintos de devoradores de belas
histórias proporcionadas por bons livros. Nesse caso, o Espelho de
Eloísa é uma ótima opção.
Araceli
Sobreira, domina os meandros da nossa língua portuguesa e tem uma
sensibilidade refinada, oferecendo-nos um brilhante trabalho,
transportando-nos ao mundo das suas personagens, fazendo com que
possamos saborear tanto os prazeres, como os desprezares das mesmas.
Bem,
deixa eu colocar esse pão (livro) na bandeja das minhas escolhas, e
servir as fatias da forma que a própria autora escolheu. Fatia 1:
Histórias de Mulheres Sábias, que são os contos encontrados da
página 13 até a 45. Os títulos são: O espelho de Eloísa; O
despertar de Zélia; A cura; A história de Elza; O conto das quatro
luas e Dora. Fatia 2: Olhares e Paisagens, que irá da página 51
até a 89. Os títulos são: Na antessala da vida; Um anjo no
viaduto; Uma noite entre pedras; Amores de rua; Era quase uma lenda;
O Parto e, finalizando, A menina e a Serra do Feiticeiro. Fiquei
amarradão no enredo da história desse último conto. Quer saber por
que? É só ler o livro.
Prontamente
fatiado o livro (pão para nossas almas), você agora já sabe o
título de cada conto, mas as histórias contidas neles, essas
deixarei em segredo. Mas, como não sou tão ruim assim, mostrarei um
pouco do conto, que dá nome a obra, comentando minhas impressões.
Vamos lá então:
Tão
pequena, mas tão forte. Esquecida entre as matas, conseguia juntar
forças. Ela sábia que até os deuses a temiam, tinha os olhos
miúdos, rasgados no rosto moreno. (p,15).
Você
pode até pensar que eu só posso é está de brincadeira, pois
esperava um trecho maior, algo que revelasse logo por completo o
conto, daí eu coloco só um pedacinho.
Calma! Lembre-se que um espelho é aquele utensílio que reflete um
pouco da gente, que nos mostra algo de nós, mas que nem sempre nos
identificamos com isso. Esse trecho que usei é um espelho, mas é a
narradora do conto refletindo quem é Eloísa, quais os traços da
personalidade dessa mulher, pois se é pequena em estatura, é
grandiosa em força, em alma e personalidade. Se até os deuses tem
medo dela, imagina nós, pobres mortais.
Mas, você deve estar se questionando: Para
que irei ler algo sobre alguém que me causará medo? Aí é que
está, não terás! Irás é se identificar, refletir-se e, ter
também, estranhamento desse reflexo. Verás que uma mulher se
constrói e reconstrói todos os dias na busca incessantes do que
todos os seres vivos fazem para serem feliz, para deixarem suas
marcas no mundo.
Como diz um trecho da música escrita por
Nando Reis: "Eu não tenho mais a cara que eu tinha, no espelho
essa cara já não é minha". E é assim que Araceli Sobreira
mostra-nos, de forma simples, esse nosso não reconhecimento de quem
somos quando estamos em frente ao espelho, a cara nunca é nossa, mas
se olharmos o espelho e nos procurarmos no tempo, quem sabe assim,
nos reconheceremos.
De acordo com meu amigo Manuel Azevedo, se o
simples fosse fácil, alguém já teria feito outro.
Parabéns a autora!
E vamos à leitura!
Claudio Wagner
Poeta,
professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da
SPVA/RN e autor do livro Entre
a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.
REFERÊNCIAS
REIS, Nando, Não
Vou Me Adaptar, Disponivle em:
https://www.vagalume.com.br/nando-reis/nao-vou-me-adaptar.html
SOBREIRA, Araceli, O
Espelho de Eloísa: e outras histórias de mulheres sábias.
Natal-RN, CJA 2018.
Fiquei curiosa para conhecer essas histórias. Ótima resenha. :)
ResponderExcluirParabéns ao resenhador e à autora. Recomendo.
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