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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Resenhas Poéticas com Claúdio Wagmer: APENAS UM OLHAR SOBRE O LIVRO CONTOS DE ESCURIDÃO E RUTILÂNCIA



APENAS UM OLHAR SOBRE O LIVRO CONTOS DE ESCURIDÃO E RUTILÂNCIA

" O passado é indestrutível. Cedo ou tarde as coisas sempre retornam. E uma coisa que sempre retorna é esse projeto de destruir o passado".
 Jorge Luís Borges

          Era primavera, era o primeiro dia da primavera, não deveria ser, mas naquele tempo e naquele lugar era (...). Com essa frase enigmática, João Andrade inicia todos os contos do livro CONTOS DE ESCURIDÃO E RUTILÂNCIA, seguindo com uma afirmativa de que não era para ser, mas naquele canto e naquele lugar, sempre era. Dessa forma o autor passa para quem está lendo o texto a responsabilidade de definir o tempo e o espaço no qual a narrativa do texto (história) ocorre, o que no meu entender é uma ótima sacada, já que me permite brincar um pouco com a história e ser até um pouco autor da mesma. E não satisfeito com isso, João não dá nome a seus personagens, esses na verdade, durante toda narrativa, são tratados por pronomes como ele, ela e assim sucessivamente, o que também nos permite brincar e assumirmos pra nós o lugar desses personagens e transitarmos numa deliciosa história de realismo fantástico e criaturas demoníacas, com pessoas que querem virar árvores, sacerdotes que colocam em dúvida sua fé, cenários de guerra com destruições em massa, viagens pelo inferno e um retorno sempre fantástico ao recomeço das vidas.     Daí a primavera como marcação do tempo no início de cada conto para nos chamar atenção. Isso parece proposital no autor, lembrar que a beleza da vida se encontra nesse ciclo infinito de acasos e renascimentos.
        Uma das cenas do livro que me chamou atenção foi a de uma criatura fantástica, imensa, demoníaca, porém com formas sedutoras de mulher, copulando magnificamente com um dos personagens. Não colocarei a página, nem tão pouco descreverei a minúcia de detalhes, que é justamente para que você tenha o direito de tirar suas próprias conclusões quando for saborear a aventura tão bem escrita por João Andrade.
       Certa vez, conversando com Ozany Gomes, Presidente da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte - SPVA/RN, ela me disse a seguinte frase: “Li um livro de poemas certo dia e gostei de todos os poemas”, isso obviamente mexeu com meus brios, com minha vaidade, me deixando chateado. Porra! Não é o meu livro, pois ela já havia me dito que tinha gostado de alguns dos meus poemas. Então perguntei de quem era o livro, e ela respondeu: de João Andrade! No mesmo dia dessa conversa, cheguei em casa, peguei o livro e li atentamente, um a um, todos os poemas e no final, tive que concordar com Ozany. De uma forma inexplicável, amei todos os poemas do livro de João Andrade e ainda fiquei pensando assim: esse cara é um poeta, e dos bons!
          E foi com essa referência, do João Andrade poeta, que fui para a leitura do seu livro CONTOS DE ESCURIDÃO E RUTILÂNCIA, da CJA Edições, onde ele trabalha o realismo fantástico, estilo de escrita cuja minhas principais referências eram Gabriel Garcia Marques e Júnior Dalberto. O primeiro é autor do livro CEM ANOS DE SOLIDÃO, livro que li ainda na minha adolescência e o segundo, autor de PIPA VOADA SOBRE BRANCAS DUNAS, livro que li há pouco tempo, mas que é, certamente, o livro que mais interviu na minha vida até o momento. Tanto Júnior Dalberto como Garcia Marques, escreveram outros livros, os quais eu também já li e amei, mas citei apenas esses para ilustrar a grandiosidade dos dois autores.
           E voltando para João Andrade, acrescento que esse agora também faz parte do meu panteão de grandes autores.
            Se voltarmos ao começo desse texto, perceberemos que o passado é indestrutível, cedo ou trade as coisas sempre retornam, como diz Jorge Luís Borges, e será na saga de destruir o passado que os personagens de João Andrade, estarão sempre renascendo em infinitas primaveras, em Contos de Escuridão e Rutilância. E eu não sei o que você está fazendo aí que ainda não foi atrás desse livro para ler.

Claudio Wagner
Poeta, professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e autor do livro Entre a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.

Referências

ANDRADE, João. Contos de escuridão e rutilância. Natal-RN: CJA Edições,2017.
BORGES, Jorge Luis.. O Escritor argentino e a tradição. Obras Completas. Rio: Globo,2000.


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