Vem garimpar comigo as minas páginas de
"Os Olhos Salgados"
No momento em que espanco as
teclas do meu notebook e os caracteres
vão dando forma na tela a esse texto, o Brasil passa por uma situação bem
complicada por causa de uma greve de caminhoneiros que durou alguns dias e vem
causando problemas no abastecimento de alimentos, combustíveis, entre outros
produtos. Essa greve que alguns chamam de Luckout, palavra inglesa para dizer
que na verdade a paralisação não é dos trabalhadores, que estão à frente, mas
sim dos donos das transportadoras (empresários), que buscam pressionar o
governo do vampiro Michel Temer, para que o mesmo baixe os preços do óleo diesel,
que segundo os caminhoneiros, onera muito o preço dos fretes, deixando pouca
margem de lucro para que esses trabalhadores possam sustentar suas famílias.
Porém, se é Luckout, greve ou outra palavra, apesar de várias tentativas, o governo
federal não conseguia dar fim a paralisação.
Essa forma que escolhi para marcar o "tempo", é
para você perceber de onde estou escrevendo, digo, de que momento da nossa
história lhe dou ciência sobre minha narrativa. Já passou um ano, desde que
estive no Bardalos Comida e Artes, ali no centro da Cidade do Natal,
participando do evento que lançou o livro "Os Olhos Salgados", cuja
autoria é do jornalista Cefas Carvalho.
No livro, Cefas narra a história de Alberto, um homem de
meia idade que após perder o grande amor de sua vida, resolve retornar para sua
cidade de origem, deixando para trás, tanto o barulho e correria da Cidade de
São Paulo, quanto as coisas que assombram sua alma, como as lembrança de sua
falecida esposa e seus próprios questionamento a respeito da vida, questões existenciais,
que cedo ou tarde chegam e se instalam na busca de que façamos uma prestação de
contas conosco, se temos uma vida que valha apena ser vivida, uma vez que
acabamos perdendo pessoas que nos são tão caras.
Take it easy (se acalma), daqui deu para perceber, você aí
resmungando, quem diabo que vai ler esse texto, ou mesmo esse livro, porque
certamente se trata de um livro cheio de depressão e amargura. Tome tento, vê
se perderia meu tempo escrevendo sobre algo amargo, para baixo, depressivo e
etc. Sim, confesso até escreveria, mas não é esse o caso.
Cefas Carvalho com a maestria de uma rendeira, que em
cada ponto presenteia o mundo com uma arte única e bem-acabada, dá vida a um
homem (personagem) que juntamente com sua filha e agora único elo com a esposa,
que já se foi, vão experienciar os prazeres de uma viagem. Pelas suas falas dentro
da história e pela forma que o pai a trata, a menina, quase adolescente, é dona
de uma inteligência bem aguçada, está sempre a questionar o pai sobre tudo e
todos. Ela parece ser a ancora que prende o pai a realidade do mundo, único
motivo pelo qual ele mesmo não desistiu de viver, depois que sua esposa morreu.
Esse dialogo pai e filha demostra essa ideia que levantei:
-
Você está feliz, papai?
-
Eu sempre estou feliz se você estiver feliz.
-
Essa resposta não vale.
-
É uma resposta como qualquer outra…
-
É a resposta que os pais sempre dão para
os
filhos, até nos filmes!
-
Talvez porque seja verdade - argumentei.
Violeta
me olhou, arriscou um meio sorriso,
que
no caso dela, significava um misto
de
felicidade com aceitação da resposta, e
voltou-se
para olhar a paisagem…
Essa
conversa das personagens demonstra o grau de envolvimento e cumplicidade pai e
filha, assim como demostra a inteligência da menina quando inqueri o pai sobre
algum assunto. Poderia ter utilizado de outras falas dentro da história que
provariam facilmente essa tese, mas escolhi essa.
São
essas, as personagens principais desse belo romance, no qual faz descrições
divinas de cenários paradisíacos e pessoas encantadoras. Um exemplo é a
descrição da bela praia de São Miguel do Gostoso, onde pai e filha foram
passear, saindo de Natal e lá chegando o pai se vê enamorado por uma bela jovem,
cuja descrição feita por Cefas dos seus atributos, deixaria qualquer um por ela
apaixonado.
Em outro passeio feito por pai e
filha, na paradisíaca Praia de Pipa, Cefas é mais uma vez minucioso, é um
arquiteto das palavras, harmoniza, para quem está lendo, todos os encantos e atrativos
da bela Pipa com seus: bares, restaurantes, hotéis, pousadas e seu lindo mar,
sempre a nos convidar para um delicioso mergulho, seja dia ou noite.
O Paulista-Potiguar, (título outorgando
por mim a Cefas Carvalho) é um profundo conhecedor dos temperos de como fazer
um excelente romance. Aqui desnudo algumas partes dessa bela história que me
cativou como leitor do começo ao fim do livro. Cefas nos coloca dentro dos
ambientes de sua narrativa, leva-nos a viver, sentir, desfrutar das emoções dos
personagens, e isso está por demais manifesto em “Os Olhos Salgados”.
O encontro do Alberto com uma amiga
do tempo de faculdade, na praia de Pipa, essa casada, mas com um marido que não
lhe dá a mínima, e uma amiga dela, é algo de fazer com que queiramos não apenas
vivenciar o momento, mas também termos um encontro dessa natureza, experimentando
o que o Alberto experimentou com essa amiga. E se você nunca passou perto da
praia de Pipa, no dia que lá estiver, se sentirá familiarizado com a praia,
como se sempre por ali estivesse vivido. Siga meu concelho, leia “Os Olhos
Salgados”, que além dessa intimidade que passarás a ter com Pipa, ainda
conseguirás entender porque ao olharmos dentro da retina de quem amamos, salgada
pelo mar, veremos refletida a beleza da vida, do mundo, esse sempre a se
reinventar. Muitas coisas foram aqui sonegadas, pois você é quem irá ler, com a
tarefa de garimpar nas páginas de "Os Olhos Salgados" sua própria
interpretação.
Claudio Wagner
Poeta, professor historiador, Cientista das
Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e autor do livro Entre a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.
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