BIP

BIP
Brinquedoteca Itinerante e Popular

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Resenha Poética com Cláudio Wagner: Vem garimpar comigo as minas páginas de "Os Olhos Salgados".

 Vem garimpar comigo as minas páginas de
 "Os Olhos Salgados"


                      No momento em que espanco as teclas do meu   notebook e os caracteres vão dando forma na tela a esse texto, o Brasil passa por uma situação bem complicada por causa de uma greve de caminhoneiros que durou alguns dias e vem causando problemas no abastecimento de alimentos, combustíveis, entre outros produtos. Essa greve que alguns chamam de Luckout, palavra inglesa para dizer que na verdade a paralisação não é dos trabalhadores, que estão à frente, mas sim dos donos das transportadoras (empresários), que buscam pressionar o governo do vampiro Michel Temer, para que o mesmo baixe os preços do óleo diesel, que segundo os caminhoneiros, onera muito o preço dos fretes, deixando pouca margem de lucro para que esses trabalhadores possam sustentar suas famílias. Porém, se é Luckout, greve ou outra palavra, apesar de várias tentativas, o governo federal não conseguia dar fim a paralisação.
            Essa forma que escolhi para marcar o "tempo", é para você perceber de onde estou escrevendo, digo, de que momento da nossa história lhe dou ciência sobre minha narrativa. Já passou um ano, desde que estive no Bardalos Comida e Artes, ali no centro da Cidade do Natal, participando do evento que lançou o livro "Os Olhos Salgados", cuja autoria é do jornalista Cefas Carvalho.
            No livro, Cefas narra a história de Alberto, um homem de meia idade que após perder o grande amor de sua vida, resolve retornar para sua cidade de origem, deixando para trás, tanto o barulho e correria da Cidade de São Paulo, quanto as coisas que assombram sua alma, como as lembrança de sua falecida esposa e seus próprios questionamento a respeito da vida, questões existenciais, que cedo ou tarde chegam e se instalam na busca de que façamos uma prestação de contas conosco, se temos uma vida que valha apena ser vivida, uma vez que acabamos perdendo pessoas que nos são tão caras.
            Take it easy (se acalma), daqui deu para perceber, você aí resmungando, quem diabo que vai ler esse texto, ou mesmo esse livro, porque certamente se trata de um livro cheio de depressão e amargura. Tome tento, vê se perderia meu tempo escrevendo sobre algo amargo, para baixo, depressivo e etc. Sim, confesso até escreveria, mas não é esse o caso.
            Cefas Carvalho com a maestria de uma rendeira, que em cada ponto presenteia o mundo com uma arte única e bem-acabada, dá vida a um homem (personagem) que juntamente com sua filha e agora único elo com a esposa, que já se foi, vão experienciar os prazeres de uma viagem. Pelas suas falas dentro da história e pela forma que o pai a trata, a menina, quase adolescente, é dona de uma inteligência bem aguçada, está sempre a questionar o pai sobre tudo e todos. Ela parece ser a ancora que prende o pai a realidade do mundo, único motivo pelo qual ele mesmo não desistiu de viver, depois que sua esposa morreu. Esse dialogo pai e filha demostra essa ideia que levantei:

- Você está feliz, papai?
- Eu sempre estou feliz se você estiver feliz.
- Essa resposta não vale.
- É uma resposta como qualquer outra…
- É a resposta que os pais sempre dão para
os filhos, até nos filmes!
- Talvez porque seja verdade - argumentei.
Violeta me olhou, arriscou um meio sorriso,
que no caso dela, significava um misto
de felicidade com aceitação da resposta, e
voltou-se para olhar a paisagem…

            Essa conversa das personagens demonstra o grau de envolvimento e cumplicidade pai e filha, assim como demostra a inteligência da menina quando inqueri o pai sobre algum assunto. Poderia ter utilizado de outras falas dentro da história que provariam facilmente essa tese, mas escolhi essa.

            São essas, as personagens principais desse belo romance, no qual faz descrições divinas de cenários paradisíacos e pessoas encantadoras. Um exemplo é a descrição da bela praia de São Miguel do Gostoso, onde pai e filha foram passear, saindo de Natal e lá chegando o pai se vê enamorado por uma bela jovem, cuja descrição feita por Cefas dos seus atributos, deixaria qualquer um por ela apaixonado.
Em outro passeio feito por pai e filha, na paradisíaca Praia de Pipa, Cefas é mais uma vez minucioso, é um arquiteto das palavras, harmoniza, para quem está lendo, todos os encantos e atrativos da bela Pipa com seus: bares, restaurantes, hotéis, pousadas e seu lindo mar, sempre a nos convidar para um delicioso mergulho, seja dia ou noite.
O Paulista-Potiguar, (título outorgando por mim a Cefas Carvalho) é um profundo conhecedor dos temperos de como fazer um excelente romance. Aqui desnudo algumas partes dessa bela história que me cativou como leitor do começo ao fim do livro. Cefas nos coloca dentro dos ambientes de sua narrativa, leva-nos a viver, sentir, desfrutar das emoções dos personagens, e isso está por demais manifesto em “Os Olhos Salgados”.
O encontro do Alberto com uma amiga do tempo de faculdade, na praia de Pipa, essa casada, mas com um marido que não lhe dá a mínima, e uma amiga dela, é algo de fazer com que queiramos não apenas vivenciar o momento, mas também termos um encontro dessa natureza, experimentando o que o Alberto experimentou com essa amiga. E se você nunca passou perto da praia de Pipa, no dia que lá estiver, se sentirá familiarizado com a praia, como se sempre por ali estivesse vivido. Siga meu concelho, leia “Os Olhos Salgados”, que além dessa intimidade que passarás a ter com Pipa, ainda conseguirás entender porque ao olharmos dentro da retina de quem amamos, salgada pelo mar, veremos refletida a beleza da vida, do mundo, esse sempre a se reinventar. Muitas coisas foram aqui sonegadas, pois você é quem irá ler, com a tarefa de garimpar nas páginas de "Os Olhos Salgados" sua própria interpretação.


Claudio Wagner

Poeta, professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e autor do livro Entre a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário