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quarta-feira, 4 de julho de 2018

Resenha Poética com Cláudio Wagner: Apenas Palavras de José de Castro



APENAS PALAVRAS?


                       Apenas Palavras é o título de um dos muitos livros do escritor José de Castro. Confesso que me apropriei do mesmo, usando-o como título deste texto, mas adicionando o sinal de interrogação.  Até o final do que escreverei, saberás porque fiz isso.
                       José de Castro, autor de Apenas Palavras, apesar de mineiro, tem toda sua produção literária no Rio Grande do Norte e, porque não dizer, grande parte da sua vida construída em terras potiguares. Certo dia, uma pessoa chegou até mim e disse: - Claudio, José de Castro gosta é de pão de queijo! De pronto, falei que também gosto dessa iguaria. Daí a pessoa insistiu e falou: - Você não está entendendo! O que quero dizer é que ele não pode ser considerado um escritor potiguar. Então, falei que tenho certeza que ele adora praia, sol e ginga com tapioca e que tudo isso pode ter em Minas Gerais, mas praia, a geográfica garante ser impossível. Mesmo pensando que todo escritor é universal, assim como qualquer outro artista, lhe digo que José de Castro é o Mineiro mais Natalense que conheço! E sua obra é genuinamente potiguar! Ela tem os traços, os trejeitos, as características de nossa gente. Todo o DNA da produção desse senhor, é POTIGUAR! Ou você acredita que A Cozinha de Marinha Farinha foi inspirado em Caranguejo mineiro? Me poupe né!
                       Eu me encontrei com José de Castro num belo dia de julho de 2017 e na ocasião, estava na Cooperativa Cultural da UFRN. Eu arrotava aos quatro cantos ser o escritor mais vendido daquela livraria. Acredito que isso o fez se aproximar de mim e, antes que eu pudesse falar qualquer coisa, me disse ir algumas vezes ali para pegar dinheiro dos seus livros, mas não sabia se eram mais vendidos quanto o meu. Perguntou meu nome e o título do meu livro. Respondi ser Claudio Wagner e meu livro, Entre a Sombra da Razão e a Razão da Sombra. Ele apresentou-me o dele, Apenas Palavras, foi quando descobrimos que ambos foram publicados pela mesma Editora. Castro sugeriu fazermos um escambo, então trocamos os livros.
                       Se é verdadeira essa frase de Truman Capote: “Meus conhecidos são muitos, meus amigos poucos; os que realmente me conhecem, são menos ainda.” Ou seja, é difícil conhecer alguém, então não conheço o José de Castro. Essa é a forma que o poeta João Andrade, apresenta o José de Castro na orelha do Apenas Palavras. E João Andrade vai mais além, dizendo que conhece sim o poeta José de Castro e sua poesia. Pois bem, não conheço o José de Castro. Como diz Capote, acho até difícil conhecer alguém, mas a obra dessa pessoa, penso que sim. O que ele escreve, está ali estático, sem movimento, sendo possível revisita-la, para traçar comparações, fazer apontamentos sobre seus aspectos, defini-la dentro de um gênero literário, nesse caso, o gênero poético. E, mais que isso, é possível tecer comentários sobre o autor, sobre a forma como ele escreve, se bem ou mal, se diz algo de relevante ou não, se sai do lugar comum ou fica preso no coloquial, sem nada acrescentar de inovador.
                       Peço para que esqueça um pouco que estou falando sobre livro e sobre autor e venha comigo para darmos juntos uma guinada e falar sobre roteiro de viagem e sobre guias turísticos, desses bem especializados, do tipo que sabe tudo em relação a cada lugar apresentado no roteiro por ele definido, conhece cada lugar que será visitado pelo turismo. Bem, José de Castro é esse guia. O seu livro, o lugar para onde viajaremos. O roteiro, a forma como o livro está dividido (definido).
                       Vamos a nosso roteiro: o livro tem 124 poemas, divididos em V capítulos: I o eu poético; II o eu feminino; III o eu lírico; IV o eu filosófico e V o eu navegante. Como cada título dos capítulos sugerem, temos um apanhado de vários eus e suas múltiplas possibilidades dentro da arte de fazer poesia, onde podemos afirmar vários Josés e seus Castros a brindar o mundo com uma poesia que vai versar em formas variadas de composição, que vai brincar com temas filosóficos, que vai vestir e revestir o poeta com o manto e uma alma feminina, traçando uma lírica embasada na beleza, sempre apoiado numa escrita fina, num português impecável, marca de um autor comprometido com o uso da língua escrita.
                       Inovação? Apenas Palavras, de José de Castro, lançado em 2015 pela CJA Edições, é um livro onde não faltam lugares incomuns, que fogem do cotidiano, mas esses, eu só afirmo a existência, não apontarei aqui nenhum, ou quase nenhuma, já lhe mostro porque, pois, você é quem irá seguir o roteiro do nosso guia e nele irás achar o que confirmam minhas palavras.
                       Deixo apenas um poema, justamente o que dá nome ao livro:

Apenas palavras me barulham por dentro,
me baralham e me bailam
me embalam e em mim se calam.

Meu casulo, minha clausura
é o verbo cela onde habito,
onde falo, onde calo o meu grito.
Grave escrita breve me agrava.
Corta-me o poema feito espada,
feito faca, adaga, fado de letra torta.

Verso leve me degrada e me condena
a ser escravo das palavras que me escrevem.
(p.18)

                   José de Castro, um homem das letras por excelência, um conhecedor do poder das palavras, justamente ele, traz essas para brincar em seu poema, afirmando em metaforiza-las, sobre as possibilidades de intervenções que essas palavras provocam. Ora as palavras brincam com o poeta, ao mesmo tempo que esse brinca com elas, e essa brincadeira faz com que um e outro virem cúmplices, numa dialética de si reinventarem, nesse caso criador e criatura viram um só. As palavras e Castro são unos, inseparáveis, indivisíveis e sempre a si transformar, dando um ao outro o combustível de transcender as fronteiras do Signo – Significante – Significado – Significação, como dizem o mestre da semiótica Saussure. E no caso de Apenas Palavras, seu autor inverte brilhantemente o lugar comum das coisas, o que era signo vira significante, e significado, em milésimos de versos e estrofes.
            Lhe desafio a ler, conferir e me refutar um abraço. E assim, você entenda porque uso a interrogação, mudando o título original do poema, é que quero saber por que "Apenas Palavras", José de Castro?


Claudio Wagner


Poeta, professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e autor do livro Entre a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.

Referencia:
CAPOTE, T. A sangue frio. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
CASTRO, José de. Apenas Palavras: Natal-RN. CJA-Editora, 2015.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística gera l. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Bllikstein . 26. ed. São Paulo : Cultrix , 2006 .





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