DÊ LÍRIO
Quem me ensinou a juntar as letras e depois
soletrá-las, no que chamamos de saber ler, foi certamente a
professora Anilda, na Escola Estadual Isabel Gondim. Mas, quem de
fato me ensinou a ler foi meu amigo, professor e advogado João Maria
Oliveira (João Oliveira). Ele não é do tipo que dá conselhos
sobre qual livro deveríamos ler, mas sim, chega e nos empresta tal
livro. Daí, você só tem duas opções: ler ou ler. Acredite, ler
um livro que passou pelas mãos de João Oliveira é uma experiência
única, pois o livro vem todo fichado, com apontamentos e suas
impressões a respeito da leitura. Isso torna a leitura encantadora,
já que parece que estamos lendo um livro dentro de um livro. Assim
sendo, aprendi a ser desses que pega um livro, lê de orelha a orelha
e ainda dá uma boa olhada na ficha técnica e catalográfica da
obra.
E o que tem haver ter aprendido a ler, com
essa resenha? Tudo! Pois, foi preciso rabiscar toda a obra “Dê
Lírio”, ler como o João Oliveira leria, deixando apontamentos a
cada nova virada de folha. Foi preciso soletrar cada palavra, para
que os poemas (poesias) viessem a fazer parte da constituição do
meu próprio ser. E foi justamente o que fiz, pois só assim pude
experimentar todo o prazer que esta obra, da Escritora Nildinha
Freitas, pode proporcionar.
O livro nos apaixona logo pela capa em
vermelho-escarlate e letras douradas. Já que o vermelho é a cor das
paixões e o dourado lembra a riqueza, contextualiza perfeitamente
com tudo que encontramos do princípio ao fim do mesmo, que é pura
riqueza poética.
Sua apresentação foi feita por um magnifico
escritor, o Junior Dalberto. Esse, inclusive, escreveu o livro “Pipa
Voada Sobre Brancas Dunas”, cuja leitura me salvou a vida. Mas
essa, é outra história.
Tenho toda convicção de que a pessoa que me
fez amar poesia, o meu saudoso avô José Rodrigues, iria amar ler
"Dê Lírio". E quem sabe isso não ocorra, uma vez que
existe uma possibilidade quântica dessa obra está transcendendo
nossa realidade e em outro universo (subversor), meu avô possa
deleitar-se, assim como eu, com os poemas de Nildinha Freiras. E olhe
que sou bem descrente nessas coisas, mas tanto Nildinha, como Júnior
Dalberto quebram minha descrença, uma vez que suas escritas geniais
dão verdade àquilo que nos parece impossível de ser.
Bem, falei da cor do livro, falei dos que me
ensinaram a ler, falei até de quem me ensinou a amar o gênero
literário poesia, mas ainda não fiz o que sempre faço em todas as
resenhas que escrevo, ainda não deixei um fragmento da obra, algo
que gostei assim que li. Preciso confessar que estou com problema
quanto a isso, pois gostei até do cheiro da tinta que foi usada para
imprimir esse livro. Então, minha tarefe de escolher apenas um
fragmento está muito difícil! Deu vontade de colocar todos os
poemas, na íntegra, só que seria acusado de plagio e, o pior, você
não iria comprar a obra de Nildinha Freitas para ter o mesmo prazer
que eu tive. Mas, vamos lá! Depois de muito pensar, lá vai um
fragmento de “Dê Lírio”:
Verdades e mentiras sobre mim?
Coisas ditas!
Coisas que ninguém viu
E nem sei se ainda vai ver.
Os pedaços do meu pranto
Que deixei espalhados
Pelos cantos
Ninguém nunca recolheu.
(Trecho do poema “Fragmento”. p.85)
O eu-lírico da poetisa nesses versos parecem
falar da própria poetisa, mas mais que isso, fala é de nós. Dou fé
em dizer do que queríamos saber sobre nós, na visão dos outros, ao
mesmo tempo que é um fragmento, uma parte, um pedaço, o poema é
também um todo indivisível, ele entra em movimento e se conecta a
todas as partes e estruturas universais do fazer poesia, do fazer da
magnânima poesia.
Por hora, é o que posso dizer da poesia de
Nildinha Freitas. Seu livro me deixou em êxtase. Obrigado Poetisa,
por tão caprichosos versos em cada uma das 89 páginas do seu e do
nosso “Dê Lírio”.
Me atrevo a usar um verso de uma das músicas
da banda Legião Urbana: “Venha, que o que vem é perfeição”.
Então, venha e leia a obra de Nildinha Freitas, que verás o que é
perfeição.
Cláudio Wagner
Poeta, professor historiador, Cientista das
Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e autor do livro Entre
a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.
REFERÊNCIA
FREITAS, Nildinha,
Dê Lírio. Natal-RN, CJA Edições,
2017.
LEGIÃO URBANA, Perfeição, extraído do site:
https://www.letras.mus.br/legiao-urbana/46967/
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