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Brinquedoteca Itinerante e Popular

domingo, 24 de julho de 2011

DESCOBRINDO O LUGAR A BONECA DE PANO NA CULTURA LÚDICA BRASILEIRA 4ª Parte







4. Boneca de pano: documento do povo brasileiro

Podemos resumir a trajetória da boneca, assim como de vários brinquedos, a partir de seu aparecimento como objeto de crianças da Antiguidade, sendo depois produzida pela indústria doméstica em um período onde a infância não era reconhecida. Servindo como artigo de decoração ou bibelô, alcançou redes que a conectaram a rituais religiosos, para depois ser reconhecida como importante instrumento de socialização da criança com seu universo (MANSON, 2002). Atualmente, percebemos que tal objeto lúdico novamente sai das redes de monopólio infantil para voltar ao universo adulto.
No Brasil, provavelmente foram trazidas à época da colonização com os escravos (KISHIMOTO, 1995) e passaram a servir como alternativa de brincar para que as crianças, não só escravas, mas também aquelas de pouco poder aquisitivo pudessem brincar com aquele artefato. A infância neste país, como aponta Mefano (2005) seguiu caminhos diferentes daqueles mencionado por Áries (1988), pois a criança nesse país, especialmente, passou a ser reconhecida após longo período de muito trabalho e sofrimento. Ainda hoje muitas crianças não têm direito e acesso ao brinquedo, tendo como principal atividade o trabalho para ajudar o sustento da família. Por esse motivo, o brinquedo aqui foi introduzido principalmente nas famílias de elite, que traziam especialmente as bonecas de porcelana de países estrangeiros.
As crianças se contentavam com bonecas feitas de forma rudimentar pelos adultos, os quais utilizavam trapos ou restos de panos não mais usados (DEL PRIORE, 2007). Del Priore (2007) não realizou trabalho específico sobre as bonecas de pano, mas em seus estudos sobre a história das crianças no Brasil aponta que as bonecas de porcelana européias importadas foram bastante populares no Brasil, à época do primeiro e segundo império. Esse fato se deve ao modismo provocado pelas elites brasileiras que possuíam condições financeiras de trazer tais objetos para o contexto lúdico brasileiro. Em contrapartida, as bonecas de pano continuaram a servir como objetos lúdicos para principalmente as crianças de baixo poder aquisitivo. Dado interessante apontado pela mesma autora é que passaram a figurar como objetos lúdicos das crianças ricas da elite brasileira. Isso demonstra o quanto esses objetos passavam a fazer parte essencial do contexto lúdico brasileiro.
Câmara Cascudo (1988) aponta que tais protótipos continuam sendo próprios das crianças pobres e que são importantes informantes históricos da expressão popular brasileira, a qual sempre teve como tradição a produção artesanal de vários produtos, inclusive de brinquedos. Assim, flagramos o movimento realizado pelos artesãos do agreste paraibano. Em uma localidade chamada de Rancho Fundo, a produção da cidade é voltada para a produção agrícola, as mulheres e, também os homens, se organizaram em uma associação, estimuladas pelo governo paraibano e pelo SEBRAE (Serviço de apoio as micro e pequenas empresas) para melhorar o sustento familiar e passaram a produzir bonecas de pano, as quais são vendidas em todo o Brasil e exportadas (http://www.codata.pb.gov.br/apps/sisarte/servletconsultaformaassociativa?acao=20).

5. Conclusão
Com o movimento desses artesãos, podemos pensar não só na via da ludicidade, mas
também pelo fato de que a boneca de pano salta do monopólio infantil para encontrar
conexões nas vias de decoração e do trabalho de artesãos. As bonecas confeccionadas têm
como potencial serem utilizadas como objetos de decoração, mas também são objetos lúdicos,
vendidas em tamanhos pequenos, médios ou grandes. Esses artesãos enfrentam o problema
apontado por Brougère (2000) como fenômeno da multiplicação dos brinquedos, no qual
brinquedos industrializados, altamente tecnológicos, são os preferidos dos pais que nem
sempre estão atentos a questões de segurança. A Associação, chamada de A Casa da Boneca
Esperança, apesar das dificuldades, pois vendem o produto a baixo preço, tenta fazer uma
resistência para manter as tradicionais bonecas de pano no contexto lúdico brasileiro.
Entretanto, a produção de bonecas de pano são se restringe a localidades como a citada
anteriormente. Em quase todo o país, como aponta Câmara Cascudo (1988) é possível flagrar
a produção dessas bonecas. Aparentemente, seu processo de fabricação segue uma lógica de
transmissão entre mulheres mais velhas para as mais novas do grupo familiar. A boneca de
pano parece ser um dos poucos brinquedos, ditos populares, construídos de maneira artesanal
que ainda consegue resistir aos intensos “golpes” da indústria de brinquedos, que tem nos
meios de comunicação de massa um forte aliado para a venda de brinquedos que seduzem
crianças e adultos, mas nem sempre condizentes com o contexto brasileiro. Ainda se vê o
interesse de crianças e adultos por esses objetos, como comprova a presença observada desses
objetos em feiras e lojas de artesanato de cidades como Tiradentes e São João Del-Rei, em
Minas Gerais.

Roselne Santarosa de Sousa (Mestranda/UFSJ)
roselnesantarosa@gmail.com
Maria de Fátima A. de Queiroz e Melo
(Orientadora/BRINQUEDOTECA//LAPIP/ DPSIC/UFSJ)
queirozmaldos@uaivip.com.br

parte extraída do texto DESCOBRINDO O LUGAR A BONECA DE PANO NA CULTURA LÚDICA BRASILEIRA no sitio: http://abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/247.%20descobrino%20o%20lugar%20a%20boneca%20de%20pano%20na%20cultura%20l%DAdica%20brasileira.pdf

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